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sábado, 18 de abril de 2009

Madrid - "Revisões da matéria dada"

No sentido de reviver a Maratona realizada em 2006 (e retirar do relato algumas conclusões) transcrevo o relato que fiz na altura.


Falar sobre a Maratona de Madrid - este autêntico Hino aos Maratonistas - constitui um tema que merece uma abordagem muito especial. A viagem, o convívio e a maratona. Falarei disto num próximo apontamento. Por agora, direi só que fiz asneira no controle do esforço e aquela "garganta" toda de que falei, de tácticas, contenções, etc, saíu tudo furado. Então não é que passo à meia com 1,36,20 e acabo com 3,26,50 (tempos líquidos) ? É burrice ou não é burrice ? Humm? Quem é que tem experiência, quem é ?Bom, depois conto.
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Parte 1
Depois de uma viagem calma, de mais de seis horas, chegámos a Madrid. Uma desatenção, à entrada, fez-nos seguir por onde não devíamos e ter de recorrer ao mapa, para dar com a Casa de Campo ( Pavilhão de Cristal ) onde estava a decorrer a Feira do Corredor . Lá conseguimos atinar e, ao meio dia local, já estávamos na fila para recolher os dorsais.Pouca gente cá fora, muita gente lá dentro. Precisamente o contrário do que aconteceu em 2005, em que as entradas eram mais “gota-a-gota”. De qualquer forma, não nos podemos queixar de termos demorado muito tempo, pois havia vários guichés a despachar o pessoal. Recebido o dorsal e verificado o chip, nova fila para receber a “bolsa do corredor”. Uma visita breve aos vários stands e encaminhámo-nos para a “Pasta”.
Aí é que foi mau! O tempo de espera foi enorme (quase 2h!) e não víamos aquilo a andar. Estávamos para desistir, mas resolvemos ficar ali, na torreira do sol. Aparece então o nosso amigo Jorge Teixeira, que vinha acompanhado do seu inseparável amigo dos treinos, o Pinto, e com a conversa agradável, o tempo lá se foi passando melhor. Almoçámos calmamente e, à saída, vimos que a fila ainda estava maior! Penso que a este nível, as coisas não estiveram tão bem quanto poderiam ter estado, pois no interior, havia bastante espaço para se poder reduzir o tamanho da fila, bastaria que se fizesse uma bifurcação à entrada, em que os atletas pudessem ser servidos por qualquer dos lados. Mas pronto, já sabem que, se pretenderem aproveitar o almoço à borla terão de ir cedinho.
Cafezinho junto ao lago e procurámos o hotel que em que tinha feito a reserva, o Eurobuilding-2 que fica próximo do Estádio S.Barnabéu e por onde, no dia seguinte, deveríamos passar a correr com 4 Km de prova. Desaconselho esse hotel, pois não considero que tenhamos sido bem tratados. É o que faz o descuido com a marcação. Acabámos por pagar mais, ficarmos longe e não termos direito a pequeno almoço nem sequer ao banho após a prova.
Depois vem a parte boa. Telefona o João Hébil, o nosso anfitrião, para saber se nos encontraríamos para jantar. Ele passaria pelo hotel e levava-nos, indo também ao encontro do Jorge Teixeira e do Pinto. Claro que aceitámos. Pelo caminho, o João disse-nos : - “Vou mostrar-vos uma coisa que não vem nos cartazes turísticos mas que, na minha opinião, merece uma visita. Trata-se de uma obra enorme, ilegal, feita com produtos reciclados na sua maior parte e que é um acto de fé de um homem que dedicou a sua vida a construí-la. Nada mais nada menos que uma Catedral (!) feita sozinho (!) num terreno que herdou. Tudo isto sem qualquer plano, sem que ele tenha qualquer conhecimento de arquitectura ou de construção civil! Acho que vão gostar de ver !” Também vos convido a ver esse trabalho em http://www.justogallego.blogspot.com/. e tirem as vossas conclusões. Nós ficámos impressionados.
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Parte 2

Para jantar, o João levou-nos a um restaurante da periferia. La Bambola era o seu nome. Estavam a ser 21h e o restaurante, que nos proporcionava um excelente ambiente, estranhamente, estava vazio! Escolhemos a mesa e sentámo-nos. Só mais tarde as mesas foram ficando compostas, pelo que concluímos que os espanhóis gostam de jantar tarde. Em todo o perímetro da sala, pintada de amarelo mesclado de castanho, junto ao tecto, frases em latim. Lembrámo-nos que o nosso amigo Zen teria ali um primeiro pitéu. Só percebi as palavras “Romano” e Vino”. Do resto népia.Tivemos ali um bom momento de convívio de que não irei esquecer-me.
Breve passagem pelo Hotel Convencion, onde o Jorge estava hospedado (pois ele queria mostrar-nos os projectos com que se encontra bastante entusiasmado e sobre os quais ele próprio nos falará quando considerar oportuno). Sobre uma mesa lá estavam panfletos do Raid Melides – Tróia, a nossa próxima grande aventura!
O Dia da Maratona. O raio do despertador toca uma hora mais cedo do que devia. Não verifiquei e comecei a preparar-me. Só 20 minutos depois é que vi que estava enganado. E tanta falta me tinha feito dormir mais um bocado…Chamo o Carlos Neto, recuso comer umas coisitas que tinha no saco, pois tencionávamos ir a um café tomar um pequeno almoço decente, por volta das 7,30. A verdade é que demos voltas e mais voltas e tudo estava fechado! Aparece o João que, conforme estava combinado, nos levaria até à zona da partida. Alguma dificuldade para encontrar um sítio para estacionar e…numa curva meio manhosa, lá estacionámos.Pequeno Almoço, que é dele? Tudo fechado. Tantas vezes me lembrei da comida que tinha deixado no saco…O melhor que encontrámos foi um café que só abria às 9h! Surgia então a dúvida : que pequeno almoço poderia tomar àquela hora? Ou seria melhor não comer nada? Fosse o que fosse seria uma opção diferente do meu habitual leitinho com cereais e toda aquela ansiedade estava a mexer comigo. Que se lixe! Vai um sumo de laranja e um croissant a que se seguiu um cafezinho. Lembrei-me da regra nº 1 da Maratona: No dia da prova não se deve fazer experiências! O Carlos Neto comeu apenas uma pontinha do meu croissant e um café.Encaminhámo-nos depois para o partida, pois tínhamos combinado encontrarmo-nos na entrada do Metro dos Recoletos. Subi a uma caixa para ver se entre tantas cabeças, conseguia distinguir a do João ou a do Jorge Teixeira. Nada! Estava a ficar na hora e tivemos de nos juntar ao maralhal.
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Conclusão

...Não ouvimos o tiro! Apenas nos apercebemos que toda aquela massa humana começou a deslocar-se lentamente. Um minuto e pouco depois, estava a cruzar o tapete. A partir daí estava entregue a mim próprio, a gerir o meu esforço para cobrir a distância. Na minha mente, estava sempre presente a ideia de que deveria, em todo o momento, manter um andamento que me garantisse “uma reserva”. Por outras palavras, andar sempre aquém daquilo que podia. Isto, como forma de controlar o entusiasmo inicial .Assim, lá ia eu, contemplando a cidade e maravilhando-me com os incentivos do público. Passo o João Hébil por volta dos 5 km . Cerca dos 10 Km surge o primeiro sinal de animação: uma potente aparelhagem sonora debitava uma música daquelas que nos enchem o peito e renovam as energias. Acentuava-se, depois, o “sobe-e-desce”! Eram pouco pronunciadas as rampas, mas compriiiiiiidas que pareciam não ter fim. Aos 19 Km oiço um “ Força Fernando!”. Era o Pedro Pinha, que estava a descansar de Londres e por isso foi só ver e aplaudir a malta conhecida. Obrigado Pedro.
Meia Maratona : 1,36,20! E eu a sentir-me impecável! Os grupos da animação, a partir desta altura, começaram a estar em todos os pontos mais difíceis. E que músicas eles nos dedicavam !?! Palmas para eles.23Km! Senti um primeiro sinal, não físico, mas de um momento para o outro parece que me desanimei! Mau,mau. Vai um gel, para ver se passa. Aos poucos, lá fui tomando o gel, que também não me estava a cair bem.
26 Km -2h ! Tempo fantástico para as minhas perspectivas… e perigoso! Lá está mais um camião da coca-cola, “carregado” de estudantes de uma tuna académica, procurando dar-nos ânimo. Surge-me a dor-de-burro! Tentei não levá-la a sério, abrandei e influenciado pela tuna até brinquei comigo :
A dor-de-burro
A mim não me convém
Que eu quero chegar ao fim
Sem a ajuda de ninguém!
Mas os km vão passando e…a dor não abranda. E eu a vê-los (os outros atletas) passar……
E comecei a “ouvir vozes”:
Já não há gel que te valha
Nem água que te refresque
Mas onde é que está a falha
Nos treinos que tu fizeste ?
Não está nos treinos o erro
Nem na desmotivação
E é bom que ao dares o berro
Tu aprendas a lição:
Então, sumo de laranja
A dez minutos da prova?
Pensavas que isto era canja?
Foi-o mas foi uma ova.
É o sumo… e é a pressa…
E és tu maratonista ?
Olha que alguém que começa
Não se arma tanto em “artista”!
38Km: passa o Carlos Neto, todo lampeiro. Ele que tinha passado aos 25Km com mais 10 minutos que eu !Enfim, lá fui até à meta instalada no enorme Parque do Retiro.
3.26.50. Mais 10 minutos que no ano passado.O saco, a medalha, as águas, (a cervejinha para quem queria) os iogurtes, as bananas, a melancia (ah, aquela deliciosa melancia) , o esperar pelo João e colegas da sua equipa e lá fomos nós fazer outra maratona até ao carro.
Apesar de ter falhado as 3,20, gostei muito desta maratona, não pelo seu traçado (principalmente a 2ª parte) que é bastante duro, mas por tudo o que gira à volta dela e pela excelente organização que tem . A chegada neste novo local, parece-me bastante melhor que o anterior que também já era bom mas terminava a subir, enquanto que aqui é a descer.
Claro que fico cheio de vontade de lá voltar, até porque preciso saber onde é que falhei.
Já me alarguei, pelo que quero agradecer a todos quantos tiveram a paciência de me aturar.Queria, por último, deixar aqui uma palavra de reconhecimento e gratidão pela disponibilidade do João Hébil em ser o nosso guia naquela cidade lindíssima que é Madrid.

5 comentários:

joaquim adelino disse...

Força Fernando, que o reviver destes relatos te restaurem a confiança para a difícil missão que vos espera.
Abraço.

João Paixão disse...

Mesmo para quem tem muita experiência, por vezes deve ser difícil retrair o entusiasmo e depois paga-se. Mas foi muito bem, se a dor de burro passou e tudo...
Mais uma. Isso é que importa.

tutta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
tutta disse...

Excelente relato Fernando.
Tu fizestes uma maravilhosa prova.
Só tenho a dar-te os PARABÉNS!!!

...tutta...
ubiratã-pr.
www.correndocorridas.blogspot.com

runningirl disse...

Fernando:

pois é a gente treina e na hora H nos animamso demais e cometemos erros. Acontece com todos nós. Estarei deste lado de cá torcendo para que você faça uma boa maratona. Qual o é o dia?

Abraços,